terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A Maldição de Chucky e o resgate da lenda do Brinquedo Assassino


Chucky, o brinquedo assassino, deixou uma marca para os fãs de filmes de suspense/terror, porém, tenha talvez manchado sua imagem em suas duas últimas edições - "A Noiva de Chucky" e o "Filho de Chucky" - quando resolveu levar a franquia para um tom cômico, apostando no humor negro. Sem a confiança dos estúdios para promover um grande lançamento, Don Mancini, criador da série, trouxe de volta o brinquedo em "A Maldição de Chucky" (Curse of Chucky, 2013) lançado diretamente em DVD e Blu-Ray nos EUA e também no Brasil.

A Maldição de Chucky é uma tentativa de manter a lenda viva, resgatando um tom original que deu fama ao boneco ruivo. Chucky retorna mais perverso do que nunca, com grandes motivações para destruir a vida de mais um grupo de pessoas. Neste filme, uma família se reúne para o funeral da mãe de Nica (Fiona Dourif), uma bela moça paraplégica, que terá de aguentar a irmã Barb (Danielle Bisutti), que chega com intenções que vão além de consolar a irmã pela perda da mãe. Junto com Barb chega seu marido Ian (Brennan Elliott), a babá Jill (Maitland McConnell), a fofa filha Alice (Summer H. Howell), e o padre Frank (A. Martinez), levado para aproximar a família de Deus.

A brincadeira começa antes mesmo da morte da mãe de Nica, quando um boneco da linha "Good Guys" é entregue pelos correios, sem remetente. Após a chegada dele, morre a mãe de Nica e então a família chega para presenciar um show de horrores inesperado. A pequena Alice fica amiga de Chucky, avisando que o boneco fala e brinca com ela, mas ninguém dá ouvidos. Uma pena que ninguém acredite, até que as primeiras mortes aconteçam e Nica comece a fazer as pesquisas sobre o estranho brinquedo.

Chucky retorna com a eterna voz de Brad Dourif, sarcástica, fofa e maléfica. O cenário deste freak show é uma casa antiga, com vários cômodos, escadas (e um elevador para que Nica possa subir, em sua cadeira de rodas), que remetem a um típico cenário de filme de horror. Como todo bom conhecedor da trama sabe, o Chucky é um boneco vivo - com suas perninhas curtas e seu andar desengonçado, ele persegue as vítimas por todos os cômodos, usando com maestria cada parte do cenário.

Como o filme foi feito para ser lançado em mídia física (DVD e Blu-Ray), espera-se um orçamento mais baixo, que pode ser percebido pela não tão grande elaboração das cenas, efeitos especiais as vezes não tão convincentes e um roteiro um tanto previsível.

Um dos pontos chave de A Maldição de Chucky é a referência às tramas anteriores que o filme carrega. Dom Mancini trabalhou bem e conseguiu ligar todos os pontos para que a trama tivesse a ver com as histórias contadas em outros filmes, sobre a criação e motivações do boneco para ser um assassino.

Para os fãs da franquia, o longa é um divisor de águas - há aqueles que dirão que este não supera os primeiros filmes, mas há quem diga que este retorno foi um grande presente para os fãs da franquia pré "filho e noiva" de Chucky.

PS.: Se você já assistiu o filme, talvez não tenha percebido - a cena pós-créditos é uma das melhores do filme.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Em Chamas, de Suzanne Collins


Em "Em Chamas", o começo da história é um tanto entediante. Toda a primeira parte do livro vemos a mesma Katniss que reclama da vida - mas enquanto no primeiro livro ela reclamava da pobreza em que vivia junto aos moradores do Distrito 12, agora ela reclama da boa vida, da riqueza em que vive um vencedor dos Jogos Vorazes. A leitura em primeira pessoa continua fluida nesse livro, e Suzanne Collins parece ter acertado em trazer todo o mundo da saga na visão da personagem central.

A história começa mesmo a ficar agitada quando surgiram os primeiros indícios da existência do Distrito 13. Daí, veio uma sequência de acontecimentos que movimentaram a trama até a chegada dos Jogos Vorazes, e o twist que vai mandar os tributos vencedores de volta para a arena. Diferente do ano anterior, em que Katniss e Peeta estavam sozinhos, agora eles formam alianças. Não vou negar que os Jogos Vorazes, na verdade, é a melhor parte do livro.

Durante todo o livro temos uma Katniss ainda ousada, mas um pouco menos inteligente. Suas atitudes acabam deixando-a por fora dos planos de alguns personagens, o que a deixa sempre irritada quando as coisas acontecem às suas costas, sem ela saber. Peeta continua o mocinho de sempre, e dessa vez até mais romântico, deixando Katniss escolher o seu caminho, mas nunca esquecendo de deixar claro a sua vontade de tê-la ao seu lado. Gale aparece tão pouco quanto no primeiro livro, sempre para criar confusões na cabeça da Katniss, pra manter seus pensamentos longe do Peeta ou para dar más notícias.

Um dos grandes destaques do livro é o Cinna, que demonstra ser aquele amigo que todos querem ter. Ele faz o melhor trabalho não só como estilista, mas como pessoa também.

Os Jogos Vorazes já acontecem no final do livro, e o desfecho é bem corrido. Quando menos esperamos, os Jogos acabam e já temos uma definição não só da disputa, mas também do que se passava lá fora durante os Jogos e que irá definir também a trama do terceiro e último livro, "A Esperança" ("A Revolta", na edição portuguesa).


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Metalhead, o filme islandês que vai de encontro com os fãs do heavy metal

Crítica | VI Janela Internacional de Cinema do Recife

A morte de um metaleiro e o fanatismo de sua irmã pela música pesada é só o começo de uma história sobre superação


Por Paulo Cavalcante

Metalhead pode ser visto de duas formas: como um drama feito para qualquer cinéfilo assistir, ou um filme para os fãs do heavy metal. O longa do islandês Ragnar Bragasson transforma o estilo de música mais pesado que se conhece como parte de uma história dramática de superação. Na trama, a jovem Hera ver seu irmão morto após um acidente, e acaba encontrando no heavy metal, que o irmão tanto idolatrava, uma forma de refugiar-se do mundo e ao mesmo tempo, manter o irmão sempre em memória. O fato é que nem Hera e nem seus pais superaram a morte do metaleiro Baldur, e isso traz grandes problemas não só para a família, mas toda a comunidade do vilarejo.

A atriz Thora Bjorg Helga é o grande destaque do filme, onde consegue apresentar uma interpretação multifaces, onde hora é uma rebelde desacompanhada, hora é uma jovem sem expectativas mais com uma crescente vontade de mudar e ser alguém na vida. Sua personagem Hera é uma menina adulta, que ainda não foi de encontro às responsabilidades mas que sabe pensar de forma madura. É nas letras das canções de heavy metal que ouve que Hera busca, por entre toda uma obscuridade e um movimento dark, a realidade que a sociedade não quer ver. E sua vida só muda quando, pouco a pouco, consegue fazer com que as pessoas ao seu redor consigam ver esse mundo da mesma forma que ela.

Metalhead tem características de uma produção bastante pessoal, com uma peculiar visão intimista do crescente movimento do heavy metal na década de 70, onde em todo o roteiro é possível notar que referências são cuidadosamente citadas e associadas a uma trilha sonora de dar gosto não só a quem é fã do heavy metal, como também a qualquer um que esteja assistindo o filme. Falando em trilha sonora, este é um ponto crucial do filme, pois são clássicos da música que embalam a todo o tempo a trama e definem o contexto da cena, como quando ouvimos "Symphony of Destruction" do Megadeath ou "Victim of Changes", do Judas Priest, no momento em que Hera pega a guitarra do irmão e decide dali em diante ser uma "metaleira".

Envolver a música, problemas familiares, superação de perdas e o preconceito em um drama forte e a inserção de - poucos - momentos cômicos, para quebrar o clima pesado do filme talvez tenha custado um pouco do roteiro. Do começo ao meio do filme, tudo é apresentado de forma separada - o que tornou a trama lenta - para só no final os pontos chave serem interligados, dando o melhor desfecho que Metalhead poderia ter.

Assim, quando se achava que Metalhead era um filme para agradar uma fanbase específica, quem o assiste sente-se logo imerso na trama, percebendo que o heavy metal e a música são só panos de fundo para um drama extenso e cheio de problemáticas para resolver, facilmente associadas a algum momento de nossas vidas.

Metalhead (Islândia, 2013)

Avaliação: 8,0

O filme foi exibido em 14 de outubro de 2013 na Mostra Competitiva de Longas Metragens da VI Janela Internacional de Cinema do Recife, em sua primeira exibição no Brasil. Metalhead entrou em cartaz na Islândia no dia 11 de outubro de 2013, sendo exibido antes na Toronto Film Festival (TFF), no Canadá.

Sinopse: É o ano de 1970 e o Black Sabbath registra seu primeiro álbum e marca o nascimento do Heavy Metal, Hera Karlsdottir nasce no chão estábulo da fazenda de seus pais, na área rural da Islândia. Os anos de sua juventude são totalmente despreocupados até uma tragédia greve. Seu irmão mais velho é morto em um acidente e Hera se culpa por sua morte. Em sua dor, ela encontra consolo na música escura do Heavy Metal e em seu sonho de se tornar uma estrela do rock (via Janela de Cinema).

Trailer:

sábado, 12 de outubro de 2013

Tatuagem é o retrato da censura e da luta pela liberdade artística e política

CRÍTICA | VI Janela Internacional de Cinema do Recife

Longa que se passa em meio a ditadura mostra como a censura afetou a vida de jovens artistas e os seus direitos de liberdade.


Por Paulo Cavalcante

Tatuagem começa de forma suave e ao mesmo tempo mostra a que veio, ao apresentar seus personagens num contraste da naturalidade imersa num cotidiano que ainda choca a sociedade. É 1978 quando os personagens Clécio (Irandhir Santos) e Paulete (Rodrigo Garcia) vêem seu relacionamento ruir quando o jovem soldado Fininha (Jesuíta Barbosa) resolve entrar em suas vidas. Um triângulo amoroso é apenas o pano de fundo para uma história que tem como papel fundamental mostrar o movimento de censura imposto pela ditadura, ferindo a liberdade de expressão de jovens que estão a procura de um futuro melhor.

É então que surge o grupo teatral Chão de Estrelas, liderado por Clécio, que leva suas peças cheias de musicais e performances artísticas que escondem e ao mesmo tempo expõem nas entrelinhas as críticas ao momento político que se vive.

Em quase duas horas de filme, vê-se em Tatuagem uma abordagem de um fato antigo que se enquadra nos tempos atuais - o preconceito, as várias formas de se protestar e a vontade de ir até o fim na luta por um ideal comum.

O longa destaca-se não só pela trama, mas também pelos aspectos técnicos que a tornam mais sensível e real. A direção de fotografia de Ivo Lopes Araújo transforma o cenário e imerge o telespectador na imagem, sem precisar de grandes trabalhos tecnológicos. Em cena, as beliches amontoadas no acampamento do quartel militar - onde Fininha passa um pouco do seu tempo pensativo - revelam a abordagem sobre a luta entre os sentimentos de prisão e liberdade que serão abordadas no filme, no sentido político, social e psicológico.

Como diretor e roteirista, Hilton Lacerda desenvolveu seu papel de forma minuciosa, desenvolvendo temas paralelos em torno de um tema principal sem prejudicar o andamento do que se pretendia relatar, e sem comprometer os objetivos finais da história. O elenco é outro ponto forte de Tatuagem, pela forma tímida no momento que surgiu e como se desenvolveu de maneira explosiva e mostrando um entrosamento perfeito do casting, a ponto de ser possível o espectador confundir o que é roteiro e o que é improviso ou realidade.

Tatuagem peca apenas por ser uma história desenvolvida no Recife, mas que não se preocupou em destacar a cidade. Quando a mostra, é de maneira tímida e com alguns desvios cronológicos, talvez um detalhe que passou despercebido pela edição, ou algo que não era o seu foco. 

O longa de Hilton Lacerda, como dito anteriormente, aborda várias temáticas em torno de um tema principal, sendo impossível dizer que é um filme sobre isso ou aquilo - o que se pode dizer é que, deixando rótulos de lado, Tatuagem consegue tocar na ferida ao citar problemáticas reais e ao fechar arcos sem mecher com os laços entre espectador e personagem - tudo se resolve de maneira sensível e sem embates. Opta-se por mostrar um final feliz e que os momentos de lutas e dores fique sub-entendidos por quem assiste ao longa.

Tatuagem (Brasil, 2013) 
Avaliação: 9,0 
O filme "Tatuagem" de Hilton Lacerda foi o filme responsável por abrir a Mostra Competitiva de Longas Metragens da VI Janela Internacional de Cinema do Recife, que teve início na noite desta sexta-feira, 11 de outubro. Com ingressos esgotados rapidamente, o longa já dizia a que veio - antes de chegar a Recife, passou pelo Festival de Gramado levando três prêmios, inclusive de Melhor Filme, e pelo Festival de Cinema do Rio, onde ganhou cinco prêmios, com direito também ao título de Melhor Filme.
Sinopse: Recife, 1978. Clécio Wanderley (Irandhir Santos) é o líder da trupe teatral Chão de Estrelas, que realiza shows repletos de deboche e com cenas de nudez. A principal estrela da equipe é Paulete (Rodrigo Garcia), com quem Clécio mantém um relacionamento. Um dia, Paulete recebe a visita de seu cunhado, o jovem Fininha (Jesuíta Barbosa), que é militar. Encantado com o universo criado pelo Chão de Estrelas, ele logo é seduzido por Clécio. Não demora muito para que eles engatem um tórrido relacionamento, que o coloca em uma situação dúbia: ao mesmo tempo em que convive cada vez mais com os integrantes da trupe, ele precisa lidar com a repressão existente no meio militar em plena ditadura (via AdoroCinema).
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O Café de Ideias é um blog escrito por Paulo Cavalcante, técnico em Química e graduando na mesma área, é o criador do extinto Séries no PC e já passou por sites como o Teleséries. Fã de cultura pop e entretenimento, irá comentar e dar sua opinião sobre as séries e filmes que vê, as músicas que ouve e os livros que lê :)

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